Imagine que você tem sua casa própria, que é de sua família a gerações, você mora nela com sua família e toda sua história é nessa casa. De repente bandidos entram nela, te tiram dela, começam a roubar suas coisas e transformam ela num comércio. Dizem que agora a casa é deles. Você procura a polícia, e a polícia dá razão pros bandidos. Você procura a justiça, e o juiz pergunta: você estava lá 23h da noite? E você responde que não, que tudo aconteceu antes disso. Logo em seguida, o juiz diz que a casa agora é dos bandidos, uma vez que estavam lá 23h da noite, e o horário de antes não vale. Só vale a partir desse horário que ele disse. Você pergunta o porquê disso, e o juiz diz que ele decidiu assim. E agora você não tem pra onde ir e nem sabe como vai arrumar dinheiro comprar um terreno e construir uma casa nova, correndo o risco de ser expulso de novo por criminosos.
Imagine você nessa situação. Parece horrível, não é?
Pois é isso que já acontece com diversos povos indígenas por todo esse território, originalmente chamado de Pindorama, a Terra das Palmeiras. Um deputado já falecido criou um projeto de lei que dá poder ao Legislativo para dizer de quem são as terras indígenas, e institui um Marco Temporal, que diz que os povos indígenas somente têm direito às terras onde vivem caso estivessem lá, com a terra demarcada, a partir da constituição de 1988. Esse projeto foi votado como sendo urgente, por iniciativa de um clássico bolsonarista defensor da moral e dos bons costumes, mas que é envolvido em vários esquemas e gosta muito de pó branco (é claro que estou falando de Amido de Milho), claramente defendendo os interesses daqueles que o financiam. Querem dizer que as histórias dos povos dessa terra começam em 1988, e não milhares de anos antes disso.
Meus ancestrais Puri foram sendo constantemente expulsos de suas terras e movidos para outros lugares, sendo colocados pra trabalhar, minas e plantações, ou relegados à exclusão e s todo tipo de ruindade. A história da minha ancestralidade familiar mesmo é assim. Se em algum momento um grupo de Puris do mesmo lugar (como já acontece) quiserem reivindicar as terras de seus ancestrais para si, não vão conseguir.
Os povos indígenas são responsáveis por 80% dos lugares de preservação ambiental no mundo todo. É graças aos parentes e parentas que vivem em lugares preservados, que nossa natureza ainda está viva.
E o que você tem a ver com isso? Tudo.
Primeiro: você é descendente de indígena. Ou, é indígena e não entendeu isso ainda. Segundo: se você está lendo isso, certamente é de Umbanda e tem Caboclo, ou seja, uma entidade ancestral indígena. Terceiro: você respira ar, não aguenta o calor ou frio excessivo, a poluição te deixa doente, quer comer como um ser humano decente a um valor que cabe no seu bolso, quer direitos básicos de vida.
Caso esse projeto de lei seja aprovado, não só as vidas de milhões de pessoas indígenas serão afetadas, como a sua também.
Proteste. Pressione. Vote contra. Se organize.
Contra o PL490! Contra o Marco Temporal!
Pañike mateuhinle bay! Brikang gwaxê ï txemim tximeon prika!
Nós precisamos viver! Vamos lutar pelos povos indígenas!
#PL490Não #MarcoTemporalNão
Makumbeiro e indígena Puri
Nascido no Rio de Janeiro numa família que praticava o kardecismo, mas que tinha ligação com as Makumbas, sempre mostrou mediunidade e interesse pelo sagrado. Começou na Umbanda aos 14 anos num terreiro muito antigo, e após uma dissidência no lugar foi pra outro, de uma umbranca "modernosa". Após decepções com a umbranca, foi para o Candomblé, onde fez o santo na nação Ketu, e depois mudou as águas para a nação Angola.
Sempre teve um caminho muito forte com a Makumba, e ao estudar e pesquisar, conheceu o Omolokô. Atualmente é filho do Grupo Espírita Unidos pela Caridade Vovó Catarina do Cruzeiro - GUCVC de mãe Fátima de Xangô, casa que mantém uma linhagem de Omolokô muito antiga.
Se reencontrou com sua ancestralidade indígena em 2021, quando conheceu o povo do qual pertence, Puri, e está em retomada ancestral, linguística e cultural.