Cabula: uma religião

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5/21/20242 min read

A Cabula é uma religião tradicionalmente praticada no Espírito Santo que também envolve uma sessão de culto e chamada de espíritos por meio de um ritual com cantos e também pemba e defumação (não sei dizer se tinha ou não esses dois elementos nos cultos de José Cabinda e Juca Rosa, tendo a crer que sim, mas como não tenho certeza não os destaquei anteriormente). As sessões são chamadas de “mesas”, o dirigente de “Embanda” e a reunião dos praticantes de “Engira”. As mesas são feitas no meio da mata, embaixo de uma grande árvore onde é montada uma fogueira e um altar. Seu primeiro registro é do final do séc. XIX pelos escritos do Bispo Dom João Corrêa Nery (Trindade 2000: 69).

As velas são denominadas estereiras e são acesas iniciando-se pelo leste, em honra do mar (calunga grande), depois para o oeste, norte e sul. Logo após a abertura do ritual, o Embanda, ao som dos nimbus (pontos cantados) e palmas compassadas, se contorce, revira os olhos, bate no peito com as mãos fechadas até soltar um grito estridente. O cambone traz então um copo com vinho e uma raiz.

O Embanda mastiga a raiz e bebe o vinho. Serve o fumo do incenso, queimado […] em um vaso e entoa o segundo nimbu. […] prossegue-se […] a parte principal das reuniões. Entoam um nimbu apropriado e o Embanda dança, com grandes gestos e trejeitos para que os espíritos se apoderem de todos […]. Os espíritos que baixam nos adeptos identificam-se como Tatá Guerreiro, Tatá Flor Carunga, Tatá Rompe-Serra, Tatá Rompe-Ponte etc (Trindade 2000: 70–71).

Aqui vemos novamente elementos centro-africanos e um ritual que lembra muito a umbanda. Uma abertura com cantos seguida de uma defumação cuja tem um canto específico e finalizada com a incorporação do dirigente. Aqui se vê também termos como “cambone” e “calunga”. Como umbandista não pude deixar de perceber também a corporalidade da manifestação do espírito no Embanda que lembra muito a incorporação de um caboclo.

As batidas fortes no peito seguidas de um brado potente. Os nomes também seguem uma lógica parecida com a umbanda, um título seguido de um nome simbólico, “Tatá Guerreiro”, “Tatá Rompe-Serra” (inclusive, no meu terreiro manifesta um caboclo com esse nome: “Rompe-Serra”) que igualmente se vê nas sessões de Juca Rosa e José Cabinda. Vale também aqui acrescentar que “Embanda” vem de imbanda que é o plural de kimbanda cuja em kimbundu significa especialista de magia.